Regiões Infernais - Mitologia Grega & Romana | NERD Mitológico


Na mitologia grega e romana, os Infernos são os lugares subterrâneos onde descem as almas depois da morte para serem julgadas, e receber o castigo por seus crimes ou a recompensa das suas boas ações.
Esses lugares subterrâneos, situados a uma profundidade incomensurável embaixo das regiões gregas e italianas, estendiam-se até os extremos confins do mundo até então conhecido; e assim como a Terra era cercada pelo rio cósmico Oceano, as regiões infernais eram circunscritas e limitadas pelo reino da Noite. Os gregos acreditavam que a sua entrada estava situada nos antros vizinhos do cabo Averno, ao sul do Peloponeso; já os romanos, supunham a existência de outras entradas mais perto deles, como por exemplo, os abismos do lago Averno ou as grutas vizinhas de Cumas. Em geral, tanto na Grécia quanto na Itália, a crença mais comum era de que todas as cavernas ou as fendas do solo cuja profundidade ninguém nunca sondara, podiam estar em comunicação com os infernos.
As quatro regiões principais
Em seu conjunto, a antiguidade concebia os infernos como distinguido em quatro regiões principais. A primeira destas, a mais vizinha da Terra, era o Érebo; para além estava o inferno dos maus; a terceira região compreendia o Tártaro, e a quarta os Campos Elíseos.
No Érebo, vim-se os palácios da Noite, do Sono e dos Sonhos; era a morada de Cérbero, das Fúrias e da Morte. Neste lugar, era onde erravam por cem anos as desgraçadas sombras cujos corpos não tinham recebido sepultura.
O inferno dos maus era o lugar temível de todas as expiações: era lá que o crime recebia o seu justo castigo, era lá que o remorso atormentava as suas vítimas, era lá enfim que se faziam ouvir as lamentações e os gritos agudos de dor daqueles que não praticaram o bem em suas vidas. Nessa região horrível, cujas planícies eram apenas aridez, cujas montanhas eram apenas rochas e declives, encerravam tanques gelados e lagos de enxofre e pez fervendo onde as almas eram sucessivamente mergulhadas e passavam pelos suplícios de um frio ou de um calor extremo. Essa região era cercada de pântanos lamacentos e fétidos, de rios de águas empoçadas ou abrasadas, formando uma barreira impossível de transpor e, não deixando as almas nem uma esperança de fuga, de consolação ou de socorro.
O Tártaro era a região que vinha depois desse inferno: era a prisão dos deuses. Cercado de um tríplice muro de bronze sustentava os vastos fundamentos da terra e dos mares. A sua profundidade era bem afastada do céu. Era aí que estavam encerrados os Titãs, os gigantes e os deuses que reinavam vitoriosamente. Era lá também, que estava o palácio do rei dos infernos.
Os campos Elíseos eram a morada feliz das almas virtuosas: reinava aí uma eterna primavera, a terra sempre alegre cobria-se incessantemente de verdura, de folhagem, de flores e frutos. Nesse prazeroso lugar, as almas afortunadas gozavam o mais delicioso repouso, uma perpétua mocidade, sem sobressaltos e sem dor. Deitados sobre leitos de asfodelo, ou molemente reclinados sobre a fresca relva, os heróis contavam mutuamente suas empresas ou ouviam os poetas que celebravam os seus nomes em versos de uma encantadora harmonia. Nos Campos Elíseos finalmente estavam reunidos todos os encantos e prazeres, assim como no inferno dos maus que estavam acumulados todas as espécies de tormentos.
Diante do vestíbulo dos infernos, na estreita passagem que conduz a sombria morada, habitam pavorosos espectros. Tais como, a dor, o luto, o terror, a triste velhice, os remorsos, a morte. Aí também se vêem o Sono, irmão da morte, as alegrias culpadas, e a cega discórdia, cuja cabeleira cheia de serpentes está entrelaçada por fitas ensanguentadas. No meio desse vestíbulo encontram-se outros monstruosos espectros de toda espécie e conformação: são centauros, seres híbridos, gigantes de cem braços, a Hidra de Lerna, uma quimera que vomita fogo e ainda Gorgones e Harpias, homens compostos de três corpos em um só. É por esse caminho medonho que chegam as almas e daí se encaminham para os seus juízes. Mas antes, é preciso que estas atravessem os rios infernais.
O Estige, o Aqueronte, o Cocito e o Flegeton
Os principais rios dos Infernos são o Estige, o Aqueronte, O Cocito e o Flegeton.
Estige era uma ninfa, filha de Oceano e Tétis. Palas, filho de Creio e de Euríbia, apaixonou-se por ela, e fê-la mãe de Zelo, da força e de Nice ou a Vitória.
Quando Júpiter, para punir o orgulho dos Titãs, chamou em seu socorro a todos os imortais, foi Estige quem em primeiro lugar chegou com sua família. O senhor dos deuses soube reconhecer uma tal solicitude em servi-lo: admitiu à sua mesa os filhos dessa devotada ninfa, e pela mais lisonjeira das distinções, quis que ela fosse o vínculo sagrado dos juramentos dos deuses, e estabeleceu as mais severas penas contra aqueles que violassem os juramentos feitos em seu nome; quando o próprio Júpiter jura pelo Estige a sua palavra é irrevogável. A ninfa Estige presidia a uma fonte da Arcádia, cujas águas silenciosas formavam um regato que desaparecia sob a terra e ia desaguar nas regiões infernais. Aí esse regato tornava-se um rio lodoso que extravasava em infetos charcos cobertos por uma noite sombria.
Aqueronte, filho do Sol e da Terra, foi mudado em rio e precipitado nos infernos, por ter fornecido água aos Titãs quando estes declararam guerra a Júpiter. O Aqueronte assim como o Estige, era um rio por onde s almas passavam sem esperança de regressar. O seu nome em grego exprime a tristeza e a aflição. É representado sob a figura de um velho coberto de úmidas vestes; repousa sobre uma urna negra donde saem ondas espumantes, porque o curso do Aqueronte é tão impetuoso que arrasta como grãos de areia grandes blocos de rochedo. O mocho, a ave lúgubre, é um de seus atributos.
O Cocito, nos infernos, é um dos afluentes do Aqueronte. Nas margens do Cocito infernal, as sombras dos mortos privados de sepultura eram condenadas a errar durante cem anos antes de comparecer perante o tribunal supremo, e de conhecer a sua sorte definitiva. Este era o rio dos gemidos: cercava a região do Tártaro, diz-se que o seu curso era formado pelas abundantes lágrimas dos maus. Na sua vizinhança havia uma porta colocada sobre um lumiar e gonzos de bronze, que era a entrada dos infernos.
O Flegeton, outro afluente do Aqueronte, rolava torrentes de chamas sulfurosas. Atribuíam-lhe as qualidades mais nocivas. O seu curso bastante longo, em sentido contrário ao do Cocito, cercava a prisão dos maus.
Plutão (Hades)
Plutão, ou mais das vezes em grego Hades, irmão de Júpiter e de Netuno, era o terceiro filho de Saturno e de Réia.
Arrancado, graças a Júpiter, do seio de seu pai que o devorara, mostrou-se reconhecido de um tal benefício, e não hesitou em auxiliar seu irmão na luta contra os Titãs. Depois da vitória, obteve em partilha o reino dos infernos. Por causa de sua fealdade e, sobretudo, por causa da tristeza de seu império, nenhuma deusa consentiu em associar-se à sua coroa. Por este motivo, Plutão resolveu raptar Prosérpina e fazê-la sua esposa.
O seu palácio está no meio do Tártaro. É daí que ele vela, como soberano, pela administração dos seus Estados, e dita as suas inflexíveis leis. Os seus súditos, sombras ligeiras e miseráveis quase todas, são tão numerosos quanto às ondas do mar ou as estrelas do firmamento; tudo quanto à morte ceifa na terra, recai sobre o cetro desses seus. Desde o dia em que inaugurou o reinado, nenhum de seus ministros infringiu suas ordens, nenhum de seus súditos tentou uma rebelião. Dos três deuses que governam o mundo, ele é o único que nunca teve que temer a insubordinação ou a desobediência, o único cuja autoridade é universalmente reconhecida.
Na Terra, não haviam templos ou altares dedicados a Plutão. Assim como não se compunham hinos em seu louvor. O culto que os gregos prestavam a ele, distinguiam-se por cerimônias particulares. O sacerdote fazia queimar incenso entre os cornos da vítima, amarrava-a, abria-lhe o ventre com uma faca feita de ébano. As coxas do animal eram particularmente consagradas a esse deus. Os seus sacrifícios só podiam ser feitos nas trevas, sobre vítimas negras, vendadas com fitas da mesma cor e com a cabeça voltada para a terra. Era especialmente venerado em Nisa, em Opunto, em Trezene, em Pilos e entre os eleanos, onde existia uma espécie de santuário que só se abria uma vez no ano, e onde só podiam entrar os sacrificadores.
Plutão é ordinariamente representado com uma barba espessa e um ar severo, muitas vezes com um capacete, presente do Cíclope, cuja propriedade era torná-lo invisível. Quando está sentado em seu trono de ébano ou de enxofre, tem na destra ora um cetro negro, ora uma forquilha ou uma lança; outras vezes mostra chaves na mão, para exprimir que as portas da vida estão para sempre fechadas àqueles que vão ter ao seu império. Também é representado em um carro tirado por quatro cavalos negros e fogosos. O atributo que mais comumente se vê a seu lado é o cipreste, cuja folhagem sombria exprime a melancolia e a dor. Os sacerdotes desse deus, em dias de sacrifícios, enfeitavam as suas vestes com coroas.
Prosérpina (Perséfone ou Coréia)
Filha de Ceres e de Júpiter, Prosérpina foi raptada por Plutão, num dia que estava colhendo flores, apesar da resistência teimosa de Cianéia, sua companheira. Ceres acabrunhada de mágoa pela perda da filha, ao voltar de suas longas viagens através do mundo sem obter notícias dela, soube enfim por Aretusa, ou pela ninfa Cianéia, o nome do raptor. Indignada, pediu a Júpiter que fizesse a filha voltar dos infernos; Júpiter concedeu, porém, com a condição de que lá nada ainda ela houvesse comido. Ascalafo, filho de Aqueronte e oficial de Plutão, informou tê-la visto comer seis grãos de romã depois da sua entrada nas moradas sombrias. Por esse motivo, Prosérpina foi condenada a ficar nos infernos como esposa de Plutão e rainha do império das sombras.
Era crença geral que ninguém podia morrer sem que Prosérpina, por suas próprias mãos, ou por intervenção de Atropos, lhe tivesse cortado um fio de cabelo pelo qual estava presa a vida.
Na Sicília, o culto dessa deusa era o mais solene, e os sicilianos não podiam garantir a fidelidade das suas promessas por um juramento mais forte do que o de Prosérpina. Nos funerais, as pessoas batiam no peito em louvor a deusa; os amigos, os servidores do morto, cortavam algumas vezes os cabelos e os atiravam na pira fúnebre para abrandar essa divindade. Os árcades consagraram-lhe um templo sobre o nome de Conservadora, porque invocavam Prosérpina para encontrar os objetivos perdidos.
Essa deusa é ordinariamente representada ao lado do seu esposo, sobre um trono de ébano, tendo na mão um facho donde sai uma chama envolta em fumaça negra. A papoula é o seu atributo favorito. Se algumas vezes põe-se-lhe na mão direita um ramalhete de narciso, é, diz-se, porque ela estava colhendo essa flor primaveril, quando foi surpreendida e raptada por Plutão.
Era reconhecida também pelos gregos pelo nome de Coréia, isto é, “rapariga”, porque supunham que a rainha do império dos mortos não devia ter filho, ou porque ainda era uma adolescente quando desceu aos infernos. Ela, porém, teve um filho de Júpiter que se fez amar sob a forma de uma serpente. Esse filho chamado Sebásio, era de uma habilidade muito notável; foi ele quem coseu Baco na coxa de seu pai.
Prosérpina e Plutão não eram considerados como divindades infernais em toda parte. Alguns povos, que se dedicavam, sobretudo a agricultura veneravam-nos como divindades misteriosas da fecundação da terra, e não davam começo às semeaduras sem antes lhe fazerem sacrifícios.
Caronte
Caronte, filho de Érebo e da noite, era um deus velho, mas imortal. A sua função era transportar para além do Estige e do Aqueronte as sombras dos mortos em uma barca estreita, feia e de cor fúnebre. Era não somente velho, mas também avaro; não recebia na sua barca senão as sombras daqueles que tinham sepultura e que lhe pagavam a passagem. A soma exigida não podia ser menos de um óbolo, nem superior a três; por isso, os parentes punham na boca ou nos olhos do defunto, o dinheiro necessário para pagar a sua passagem.
Em vida, nenhum mortal podia entrar em sua barca, a não ser que tivesse como salvo-conduto um ramo de ouro de uma árvore fatídica, consagrada a Prosérpina. A Sibila de Cumes deu um desses ramos a Enéias quando ele quis descer aos infernos. Pretende-se mesmo que Caronte tenha sido punido e exilado durante um ano, nas profundezas do tártaro, por ter passado a Héracles na sua barca, sem que este estivesse munido do magnífico e precioso ramo.
Cérbero
Cérbero, cão de três cabeças, com o pescoço eriçado de serpentes, nascido do gigante Tifon e do monstro Equidna, era irmão da Orto, da Quimera, da Esfinge, da Hidra de Lerna e do leão de Neméia.
Este cão guardava a entrada dos infernos e do palácio de Plutão. Acariciava as sombras que entravam, e ameaçava com seus latidos e as suas três goelas escancaradas, aqueles que queriam sair.
Nas medalhas, nas moedas e nos vasos antigos, Cérbero acompanha sempre a Hades; mas é entre os laços ou entre as mãos de Héracles, que o derrotou certa vez para passar pelas portas
dos infernos, que os pintores e escultores têm-no representado o mais das vezes.
Os Juízes dos infernos
Depois de terem recebido as honras da sepultura, e atravessado o Estige e o Aqueronte, as almas comparecem ante os seus juízes. O tribunal está situado em um lugar chamado Campo da Verdade, porque nem a mentira nem a maledicência podem aproximar-se; de um lado confina com o Tártaro, do outro com os Campos Elíseos.
Os Juízes são três: Radamanto, Eaco e Minos. Os dois Pimeiros instruem a causa e pronunciam geralmente a sentença; em caso de incerteza ou indecisão, Minos, que ocupa o lugar mais elevado entre os outros juízes, intervém como árbitro, e o seu veredicto é irrevogável.
As Fúrias
As Fúrias são divindades infernais encarregadas de executar sobre os culpados a sentenças dos juízes, devem o seu nome ao furor que inspiram. As mais conhecidas das fúrias, as mais geralmente citadas pelos poetas, são: Tísifone, Megara e Alecto.
O Letes
Depois de um grande número de séculos passados nos infernos, as almas dos justos e a dos maus que tinham expiado os seus crimes, aspiravam a uma vida nova, e obtinham o favor de voltar a Terra, habitar um corpo e associar-se ao seu destino. Mas, antes de sair das moradas infernais, deviam perder a lembrança da sua vida anterior, e para consegui-lo bebiam as águas do Letes, o rio do esquecimento.
A porta do Tártaro, que dava para esse rio, era oposta à que abria sobre o Cocito. Aí, as almas puras, sutis e leves, bebiam com avidez essas águas cuja propriedade era de apagar da memória todo o vestígio do passado, ou de apenas deixar vagas e obscuras reminiscências. Aptas então a reentrar na vida e a sofrer-lhe as provações, as almas eram chamadas pelos deuses a tomar a nova encarnação.
O Letes corria lenta e silenciosamente; era, dizem os poetas, o rio de óleo, cujo curso tranqüilo não deixava ouvir nem um murmúrio. Ele separava os infernos do mundo exterior, do lado da ida, assim como o Estige e o Aqueronte separavam-nos do lado da morte.

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